A Borboleta Azul
- Cláudia Goulart Alves de Mello
- 18 de mar.
- 4 min de leitura
Atualizado: 22 de mar.
Este é um conto antigo, que fala sobre uma pequena lagarta, nascida há muito tempo. Ela rastejava no solo, de um lado para o outro, com alguma dificuldade, como fazem as lagartas.
Um dia, cansada de rastejar, resolveu subir numa árvore, mas não uma árvore qualquer. Escolheu a de tronco mais grosso e folhas mais largas, sob a qual havia brincado, crescido e vivido por toda a vida.
Começou sua jornada para cima, subiu e subiu e subiu, mas - muitas vezes - escorregava, caia e não conseguia avançar. Apesar disso, ela não desistiu, foi em frente. Prosseguiu, persistiu.
Finalmente, chegou a um galho de onde conseguia enxergar todo o vale. A vista era extraordinária! Lá de cima, ela via outros animais, admirava o céu azul com suas nuvens tão brancas... e, no horizonte distante, avistava um mar extenso, que se movia no ritmo da sua respiração. Naquele lugar, ela pulsava, na mais profunda paz.
Ficou imóvel, apenas observando o mundo e sentiu que a vida era muito bela, para não se transformar com ela.
Sentia-se cansada, mas muito grata pela sua vida de lagarta. Sabia que estava prestes a se tornar um outro ser. Assim, adormeceu, entregando-se àquela calma profunda, sentindo dentro de si a certeza de que estava destinada a ser mais do que uma lagarta.
Dormiu, dormiu e dormiu, fazendo crescer um casulo ao seu redor, que preservava sua tranquilidade e a protegia, enquanto ela se transformava.
Ao acordar (confusa), entrou em pânico, sentiu-se presa numa armadura, da qual não conseguia se desvencilhar. Percebeu que algo estranho havia crescido em suas costas. Com muito esforço, movimentou o que lhe pareciam ser enormes asas e o casulo se partiu.
Viu que suas asas azuis eram magníficas e pensou – “comecei a me transformar”! Contente, ela desceu da árvore usando suas pequenas patinhas. Carregou aquele peso enorme nas costas, por todo o caminho. O cansaço estava consumindo suas forças...
Já em solo, voltou à vida, movimentando-se como sempre havia feito, com os pés no chão! Ocorre que, agora, as enormes asas (que ela carregava nas costas) deixavam tudo bem mais difícil.
Não compreendia o porquê de sua vida ter se complicado tanto, afinal ela estava se transformando, evoluindo... Decidiu, então, retornar ao galho no qual tudo havia começado.
Ao tentar subir a árvore novamente, achou que seria impossível, com todo aquele peso. Qualquer brisa mais forte a fazia cambalear e retroceder... Cada obstáculo parecia mais intransponível do que nunca!
Em determinado momento, parou, olhou para cima, viu o galho distante e começou a chorar, desesperada. Soluçava, quando uma borboleta branca se aproximou e pousou numa flor ao seu lado. Sem dizer coisa alguma, somente a observou, por algum tempo.
Quando ela se acalmou, a outra lhe perguntou:
- O que houve com você?
- Não consigo subir até aquele galho: uma coisa que antes, mesmo com dificuldade, eu conseguia fazer...
- Mas você pode voar até lá!
- O que? Ela pensou. Lembrou-se de sair do casulo movimentando as asas com força... e as abriu, eram de um azul perolado brilhante, pesadas e grandes. Mas se assustou e as fechou rapidamente.
- Você está machucando suas patas, porque não usa as asas! Disse a Borboleta Branca, enquanto abria as suas e partia num voo gracioso.
A Borboleta Azul observou cada movimento da outra (impressionada) e pensou em suas palavras. Começou a compreender que já não era mais lagarta e que aquelas asas poderiam, de fato, servir para alguma coisa. Então, as abriu novamente, desta vez, mantendo-as estendidas.
As asas faziam parte dela. Viver como lagarta passou a ser impossível, porque ela havia se transformado.
Quanto mais abria e movia as asas, mais se sentia borboleta e não lagarta. Quando se deu conta, já voava, suave, pousando em seguida no galho que tanto queria alcançar.
Ainda precisava aprimorar seu voo, é verdade, mas viu que voar era bem mais fácil do que rastejar. O medo a havia impedido de perceber que já havia se transformado, e que era uma fabulosa Borboleta Azul!
O conto traz uma metáfora perfeita para os nossos processos de crescimento, resiliência e aceitação. A borboleta é símbolo de transformação por causa da metamorfose que sofre, mas também por conter em si, tanto a fragilidade quanto a grandiosidade da vida.
Nossas resistências, com suas raízes fincadas em medos infantis, nos atrasam e derrubam da árvore. A transformação depende de determinação, autoconhecimento e de todas as ferramentas que pudermos dispor, para auxiliar nossos processos.
A Borboleta Branca é o nosso Guru Interno, a nossa consciência, que se amplia e nos adverte.
A impermanência é o principal atributo do viver: tudo muda, o tempo todo. Não mudar é uma violência, significa adoecer e morrer.
Quem vive jamais é o mesmo, porque a vida (em si) é transformadora e, se não nos transformamos, é porque estamos fora da vida.
Carl Jung (pensando na Borboleta Azul) nos disse que “o que negamos nos subordina e o que aceitamos nos transforma”. E isso é verdade.
Sábios, pensadores, filósofos, artistas, poetas e borboletas (assim como Lao Tsé) sempre souberam que “o melhor presente que podemos dar ao mundo é a nossa própria transformação”..."O que, para a lagarta, é o fim do mundo, para o resto do mundo se chama borboleta!"
Portanto, o que nos cabe é viver, ou seja, transformar e ser transformado pela vida: aprender, crescer, evoluir, abrir as asas e alçar voos cada vez mais audazes, rumo à luz de uma consciência plena!

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