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Pássaros no Sótão

  • Foto do escritor: Cláudia Goulart Alves de Mello
    Cláudia Goulart Alves de Mello
  • 26 de ago. de 2024
  • 5 min de leitura

Atualizado: 10 de dez. de 2024

Dependência digital? Sim, eu tenho! Amo navegar, pesquisar, ver redes sociais… Dependendo do meu computador, smartphone, smart tv... Adoro! Acho até que meu cérebro já está atrofiando um pouco (ou muito). Vi um estudo do Neurocientista Nicolelis, demonstrando (entre outras coisas) como um simples GPS pode atrofiar o setor do cérebro que cuida da inteligência espacial. Percebo que tenho me esquecido frequentemente da grafia das palavras (coisa em que eu sempre fui boa), mas o famigerado corretor (que faz tanta bobagem e é tão irritante) está funcionando como um “anexo” do cérebro. Acho que a mente “pensa” – “aqui não precisa esforço, tem um aplicativo externo pra isso!”... Enfim...


A verdade é que são tantas plataformas... Abre a Apple para acessar a Prime, Netflix... etc. Mas, quando a gente quer só uma "tv de babá", ligada enquanto fazemos outra coisa, o bom mesmo é a tv aberta. E, há uns quinze dias, a minha, que depende de uma arcaica antena no telhado, ficou com péssimo sinal, a imagem de cinema já era.

Pensei, foi o vento! Andava ventando muito naqueles dias...


- O que tem que fazer?

- Vou subir no telhado e consertar...

- Ah, não vai não!

- Vou sim, é fácil,

você segura a escada e...

- Não seguro coisa (p...) nenhuma!

Arruma alguém que faça!


Passaram-se mais uns dois dias e nada. O sinal ia e vinha, melhorava e piorava, e ninguém para arrumar o troço! Eu fui levando, um dia de cada vez, né? Escolhendo as minhas batalhas... 


Acordei de manhã e vi, na calçadinha da casa, ao lado do gramado, uma sujeira danada, terra pra todo lado. Limpei tudo, reclamei dos cachorros...


No dia seguinte, a mesma terra! 


- Você já viu que esses cachorros estão fazendo buraco? Sabe onde é? Estão trazendo terra pra calçada!

- Ah, não são eles não, isso é um João-de-Barro que tá fazendo ninho aí e derrubou tudo.

- Nossa, um João-de-Barro que é péssimo construtor? Achei que eles fossem mais organizados...

 

A agonia continuou, a gente limpava e o João-de-Barro sujava... A gente limpava e o João-de-Barro sujava...


- Mas aonde está o ninho?

Não consigo ver daqui!

- Deve estar mais alto, no caibro...


Esta casa já tinha ninhos, quando nos mudamos. Para colaborar, coloquei umas casas de passarinho nas varandas, potinhos pra beija-flor... coisa e tal. Uma das casinhas foi ocupada por um casal de canários, no mesmo dia em que a pendurei. Alta demanda! Ficou até parecendo o condomínio “minha casa, minha vida”: já nasceram canários, bem-te-vis, sabiás-laranjeiras, pardais e uns pequeninos que nem sei o nome...


Eu, sempre tensa, por causa dos gatos. Tenho dois, um casal – Malbec e Olívia. Olívia se meteu numa briga, há uns dois anos atrás, e perdeu um olho, é a nossa “piratinha” (mas, nem por isso, ficou menos perigosa para os passarinhos incautos). Já o Malbec prefere caçar lagartixas (eu sou craque, é quase uma modalidade olímpica: quando vemos a lagartixa, dou o bote e pego antes dele! Daí, solto longe do alcance).


São nove cachorros e dois gatos, que transitam por todos os espaços. Na casa antiga, havia uma área perto da piscina “mais segura”, onde eu alimentava os passarinhos, cheguei a contar mais de 14 tipos, mas aqui achei melhor deixa-los no espaço aéreo, longe da tropa de choque.


A casa nova foi um mistério para os gatos, que precisaram ficar confinados por uns dois meses até serem soltos, aos poucos. Fizemos de tudo para que não fugissem, até cerca elétrica (à prova de eletrocussão de gatos, obviamente). Dentre as providências, montamos uma parede de diversão na área externa, uma “gatolândia”! Acontece que a qualidade do material não era a que esperávamos e, na primeira tentativa, despencou casa, prateleira, gato e o diabo a quatro! Tudo para o chão.


Depois do acidente fatídico, reforçamos as peças com um sem número de parafusos e mãos-francesas. A “gatolândia” ficou firme, mas os gatos estavam traumatizados. E trauma é trauma, sabe como é, né? Eles não sobem lá nem amarrados! A diversão é toda no chão mesmo, junto com os cachorros.


- Vamos tomar café? (e eles ouvem “vamos comer biscoito”?) – Os cachorros vêm correndo, e os gatos junto! Não deu outra, agora também compramos biscoitos para gatos. E, assim, a vida segue...


Hoje de manhã, eu e meu chá fomos nos sentar no gramado, para pegar um solzinho... Na calçada, tinha uma montanha de barro e grama e palha. Olhei para cima e já dava para ver o ninho tomando forma, no alto do pilar. E advinha o que mais estava lá, logo acima do ninho? Os conectores da antena de televisão, tudo soltinho e pendurado! 


Os construtores também saíam por trás das telhas, vinham do forro da casa, havia pássaros no sótão! Eu imediatamente me lembrei de Hitchcok e os corvos do subconsciente (os pássaros estavam no sótão, aqui também!... rsrsrs).


Ah, entendi. Respirei fundo e sentei com o meu chá. Em volta de mim, oito cachorros e dois gatos (o Jack ainda estava dormindo, ele sempre se levanta mais tarde...).


Não demorou muito e os donos do ninho apareceram. João-de-Barro que nada, eram bem-te-vis! Como se pode confundir um João-de-Barro com um bem-te-vi, que é amarelo? Tudo é diferente. Fiquei olhando e percebi a dinâmica. Eles estavam usando a água da irrigação para fazer a “argamassa” do ninho, juntavam tudo com grama e capim e colocavam na calçada. Era como botar o material de construção junto da obra. Primeiro, eles levavam tudo para lá e depois, da calçada para o alto. E nós limpando sistematicamente “o material de construção” (que parecia entulho de “maus construtores”): essa obra não ia ficar pronta nunca!


Os gatos e os cães, eu e o chá, estávamos meio sonolentos, observando tudo, até que o Joaquim despertou e correu atrás do construtor! Daí, foram todos, um Deus-nos-acuda! Quando tudo se acalmou, levei a tropa para dentro, peguei a máquina e tirei umas fotos das criaturas.


Ivan acordou e eu contei a novela: os passarinhos eram bem-te-vis; o ninho não era no caibro; têm pássaros no sótão (e eu não sei o que fazer com eles...); aquilo que limpávamos era o material de construção armazenado (com trabalho e sacrifício) pelo casal; a televisão estava ruim porque eles mexeram na antena e soltaram a fiação; os cães e os gatos já sabem dos passarinhos; e a minha paz estava comprometida, porque eu ia ter que vigiar todo mundo para não acontecer um acidente fatal com os novos moradores.

 

Ok. Respirando, acalmando... 

Se conforma aí!

Melhor deixar fluir e lembrar que a gente não tem controle (de fato) sobre quase nada na vida, muito menos sobre aqueles que surgem assim, voando sobre o nosso mundo, tão de repente como se vão.


Em sua defesa, eu ouvi que – “foi essa terra vermelha de Brasília, que deixou os bem-te-vis com cara de João-de-Barro!"


Eu, o chá (acordeína), Olívia e um dos construtores
Eu, o chá (acordeína), Olívia e um dos construtores

Malbec (o traumatizado) e a "Gatolândia"
Malbec (o traumatizado) e a "Gatolândia"

O material de construção, conectores da antena e os pássaros
O material de construção, conectores da antena e os pássaros

Joaquim atacando...
Joaquim atacando...

Investigação geral sobre os passarinhos...
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O Condomínio "minha-casa, minha-vida!"
O Condomínio "minha-casa, minha-vida!"






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