Um Pálido Ponto Azul no Espaço
- Cláudia Goulart Alves de Mello
- 20 de nov. de 2024
- 4 min de leitura
Atualizado: 30 de jan.
O Pálido Ponto Azul (“Pale Blue Dot”) é uma fotografia da Terra, que foi tirada em 14 de fevereiro de 1990 pela sonda Voyager 1, a uma distância de seis bilhões de quilômetros (ou 40,5 AU – Unidades Astronômicas). A foto fazia parte de uma série de imagens do nosso Sistema Solar, que foram chamadas de “Retratos de Família”.
Vista de Saturno, a Terra aparece como um minúsculo ponto branco-azulado, perdido na imensidão do espaço profundo, menor que um pixel, no meio de uma faixa marrom, flutuando em um raio de luz solar.

A Voyager 1 havia completado sua missão principal e estava deixando o Sistema Solar. Graças ao astrônomo e escritor Carl Sagan, que teve a ideia de virar a câmera para tirar uma foto da Terra (e convenceu a NASA disso), temos essa imagem espetacular. Ele, na época, escreveu um livro sobre o assunto e fez uma profunda reflexão a respeito.
Sagan fala sobre como, neste pequeno ponto, “todos os que amamos (e qualquer um sobre quem já ouvimos falar, cada ser humano que já existiu, todos a quem conhecemos) viveram: é a nossa casa, o nosso lar, somos nós!”
Carl Sagan nos leva a refletir sobre “o conjunto da nossa alegria e sofrimento, milhares de religiões, ideologias e doutrinas... cada caçador e coletor, cada herói e covarde... cada líder supremo, cada santo e pecador... que viveu neste grão de pó suspenso no espaço..., um cenário muito pequeno numa vasta arena cósmica..., com rios de sangue derramado por generais e imperadores...” E ele constata que “toda a nossa suposta auto importância e ilusão de termos qualquer posição de privilégio no universo é desafiada por este pontinho de luz pálida”.
Bom, eu aqui, na minha pequenez, “refletindo sobre as reflexões” de Sagan, fico pensando em toda essa "criação" (com milhões de espécies, bilhões de dinâmicas de vida, fenômenos físicos, infinitas reações químicas e biológicas, tanta energia e informação) existindo neste pequeno ponto (no meio do nada), e eu me pergunto: - o que somos nós?
Quem somos nós, que vivemos nesta profunda miséria humana, imersos num sofrimento atroz (na “noite escura da alma”), mas que também voamos alto, vislumbrando a luz, criando beleza e compartilhando amor… O que somos?
Somos cruéis, frios, sedentos de poder. Passamos o tempo (ou a maior parte dele) olhando apenas para nossas próprias necessidades, sem empatia pelo outro, por outras espécies ou pelo planeta, sem compreender que fazemos parte de um todo.
Por outro lado, nós também pensamos, fazemos arte, criamos, perguntamos, investigamos, aprendemos, descobrimos e inventamos. Nós nos comovemos e nos elevamos - filosofamos, rezamos e meditamos. Conseguimos transcender e superar. E sempre somos capazes de um próximo passo!
Nossas limitações parecem gigantescas, assim como a nossa capacidade de crescimento parece infinita. Quem somos nós? De onde viemos e para onde estamos indo? Qual é o nosso propósito?
Quanta inconsciência e quanta capacidade para a consciência, quanta luz e quanta escuridão! E tudo isso acontece aqui, neste ínfimo ponto pálido.
É neste pequeno planeta, em lugar algum, que tantos sistemas complexos coexistem e se interconectam, que há tanta vida, energia e informação... Eu estava ali, imersa nesse turbilhão de pensamentos e, de repente, ocorreu-me que (como se isso jamais houvesse passado pela minha cabeça): se neste NADA, há tanto, o que não haverá na imensidão que nos cerca?
É claro que eu já havia pensado nisso muitas e muitas vezes, desde sempre. Mas, desta vez, a questão veio imperativa, firmada na concretude da fotografia, com uma espécie de “ineditismo mágico”: se nós conseguimos ser tão complexos, ricos e imensos, neste pequeno ponto, o que não haverá além? Quantas dimensões, frequências e diferentes realidades existirão?
Somos apenas uma gota, mas fazemos parte desse TODO aí! E qual é a importância disso? Como o “oceano” funciona, e como nós funcionamos Nele?
Então, eu me lembrei do Deep Field (Campo Profundo), que é a imagem de uma pequena área do céu, obtida com um tempo de exposição muito longo, para estudar e detectar objetos tênues.

O Hubbel Ultra-Deep Fiel (Campo Ultra Profundo do Hubble) é a imagem de uma pequena região do espaço, na constelação de Fornax, feita no período entre 3 de setembro de 2003 e 16 de janeiro de 2004, pelo Telescópio Espacial Hubble, e é o quadro mais profundo do universo (em luz visível) de como ele era há 13 bilhões de anos (entre 400 e 800 milhões de anos após o Big-Bang).
Nesta pequena região do céu (que corresponde a um décimo do diâmetro da Lua vista da Terra, ou seja, uma área menor que um milímetro quadrado, equivalente a 13 milionésimos da área total do céu visível), estão cerca de 10 mil objetos, dos quais a maioria é de galáxias de várias idades, tamanhos, tipos e cores.

O espanto é o mesmo do causado pelo “pequeno pálido ponto azul”: se neste minúsculo pedaço do céu, equivalente ao diâmetro de uma moeda a 25 metros de distância (e que parecia vazio), aparecem tantos milhares de galáxias (cada uma com bilhões de estrelas orbitadas por milhões planetas), o que não haveria no resto de toda essa imensidão?
Não sei como é para vocês, mas – para mim – há um limite claro. É como se apenas uma parte ínfima da minha consciência coubesse neste corpo físico, tudo é muito limitado (aqui). Não tenho capacidade para compreender e avançar pela imensidão infinita... mas a QUESTÃO existe em mim! Fractais dentro de fractais intermináveis, cada um contendo as informações do todo dentro de si, mas não a consciência (ainda).
Afinal (permita-se perguntar), quem somos nós? E o que fazemos aqui, existindo por um período de tempo tão curto, neste pequeno ponto do universo, tão solitário e desimportante?
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